SENHORA DA MAR

SENHORA DO MAR

Açores, ilha Terceira... Uma mulher está caída na areia negra da praia, ao entardecer. Parece morta. Na vila e São Mateus, ali mesmo ao lado, é tempo de introspeção e romaria. Mas a peregrinação é subitamente interrompida. Desapareceu uma criança: Chico, o bebé do milagre, o filho da Flávia, que todos adoram. O ambiente é de consternação. Ninguém sabe dele.

Os homens reúnem-se para o procurar. As mulheres rezam ao Divino Espírito Santo. Teme-se que tenha caído por uma escarpa. Que tenha morrido no mar. Rapidamente, as mulheres viram-se contra Anabela, a menina que deveria estar a tomar conta de Chico.

A mulher na praia é Joana, que ali chegou vinda do mar, exausta e a lutar pela vida. Acabou de fazer 36 anos, uns dias antes, e de descobrir que está grávida. Essa notícia, que seria uma bênção para uma mulher que quer muito ser mãe, tornou-se um problema. Alexandre, o marido, é egoísta, controlador e, por vezes, violento. O facto de estar desempregado agravou a situação. Os últimos tempos têm sido assustadores.

Será difícil convencê-lo de que esta é uma boa altura para trazer uma criança ao mundo... O pior é que Alex descobre a gravidez e reage muito mal. Parece enlouquecer, ameaça Joana e aponta-lhe uma arma. E Joana foge, a meio da noite, sem mala, sem telefone, sem dinheiro. Em desespero, esconde-se num veleiro, mas acaba por adormecer. Acorda, horas depois, em mar aberto. Os donos da embarcação não são de confiança e Joana percebe que fugiu de uma ameaça para cair noutra, ainda maior.

Ao largo da Terceira, pensa que a vão matar e atira-se do barco. Acorda na praia, com Chico a fazer-lhe festas. Quando chega à aldeia com a criança ao colo é recebida como uma santa.

Nasce o mito da Senhora do Mar.